segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

a cor

acordei poeta
à cor dei poeta
acordei, poeta
à cor dei poesia

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Perfeição

Ele queria a resposta perfeita
Àquela pergunta feita por Goddard
Como a feita na mesa de bar

Ele queria a resposta perfeita
A resposta perfeita do seu corpo ao meu toque
A resposta perfeita do meu corpo ao seu toque

Ele queria a resposta perfeita
Sobre o que meus amigos achavam da bolsa nova
Até sobre minha posição política

Ele queria a resposta perfeita
A resposta perfeita foi cuspida
A resposta perfeita foi escarrada

A resposta perfeita foi um gélido "não".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Saudade


Ele não sabia onde estava. Seus olhos se abriram e se depararam com a escuridão sufocante. Por um momento manteve a calma e sua tendência a racionalizar os fatos lhe foi útil. Mas somente por um momento. O escuro o sufocou. Estava na sua casa, um longo corredor se estendia a sua frente, decorado com azulejos brancos. Via todos os móveis que já estiveram naquele cômodo, e todos os lugares que já ocuparam graças às mudanças, tão necessárias para acalma-lo. Estava em uma cama que nunca pertencera a esse cômodo, em nenhuma de suas versões. Sentiu o aroma do bolo de milho e do café fresco. Viu a luz do crepúsculo do fim da tarde entrar pela fresta da porta. Sentiu o sol aquecer seu corpo. O sol que aos poucos morria no horizonte.

 Um filete de sangue escorria do seu nariz. Pensou que talvez também estivesse morrendo. Ou já estava morto? As lágrimas se juntaram ao sangue que banhava seu rosto. Então, todas as sensações e aromas sumiram, estava novamente jogado à escuridão. Tateou no escuro, em busca de algo que revelasse sua localização, imaginou mentalmente as características do seu quarto, levantou-se, acendeu a luz e se viu no seu novo velho quarto, na sua nova velha casa. Foi ao banheiro, limpou o rosto e se viu perdido em pensamentos olhando seu reflexo no espelho.  Soltou uma longa gargalhada, e ria cada vez mais, vendo seu rosto enrubescer e seus olhos lacrimejarem.  

Eram quatro da manhã, dizia seu relógio na parede. O jovem voltou para o quarto, apagou as luzes, deitou-se, enxugou uma ultima lágrima e antes de cair no sono, disse sussurrando:
Era saudade.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Skyline


A nova vacina também é a nova doença.

E estamos contaminados, um contágio rápido e eficiente.

Não sei se as linhas no céu serão as mesmas que cairão sobre nossas cabeças.

A falta de leitura não é mais o problema.

A grande falta dessa geração é a fala.

Mas o clássico continua clássico.

E no silêncio reina a destruição.

Mamãe tinha razão; mente vazia, oficina do diabo.

pain in birth




“Adoro o cheiro de sexo, suor e sangue.” Ela disse isso e então fomos ao meu apartamento. A pele daquela puta estava estranhamente fria, mas ela era gostosa e chupava como ninguém. Foi uma boa transa. Ela aparentemente gostou mais do que eu.

Acordo às 5 da tarde do dia seguinte, ela já tinha ido embora, se tivesse ficado, teria levado uns bons tapas. Aquela vadia rasgou as minhas costas. Finalmente entendi o que ela quis dizer com “sangue”. Não me leve a mal, eu gosto de garotas selvagens, mas aquela fudeu comigo. Muito.

Já eram 6:30 da tarde quando minhas duas pizzas chegaram, estava faminto. As devorei em 30 minutos. E em menos de 30 as coloquei pra fora. Estranho... Isso raramente acontece comigo. Se você conseguisse me ver, provavelmente iria discorda; sou tão esquio quanto é possível um ser humano ser, você provavelmente ia tentar ser simpático e me oferecia comida. Mas pego muita gente porque eu tenho uma cara bonita e sei comer muito bem, sei disso porque uns caras já me disseram isso; gays são infinitamente mais sinceros do que as mulheres quando é assunto é falar do pau alheio.

... Nunca percebi que a porra desse apartamento fedia tanto, ele realmente só cheira a sexo, suor e sangue. Esse cheiro me deixa tão enjoado que, por um momento, perco a consciência.

Tudo é marrom, eu estou no meu apartamento, mas ele está diferente. Na verdade eu não estou. Esse não sou eu. Isso fede, fede muito, nunca senti esse fedor na minha vida, mas eu gosto desse fedor, mas na verdade não gosto, não sou eu. Eu estou caindo, mas não estou. Aqui é apertado, e eu estou com fome. A puta da noite passada não sai da minha mente. Eu amo ela, mas na verdade quero matar ela, quero muito matar ela, ela é só minha escrava...

Vomitei mais uma vez, dessa vez, quase não tinha o que colocar pra fora. Estou tremendo de frio, sinto uma dor no corpo que nunca senti antes. Aquela transa da noite passada não pode ser a causa disso. Encosto minhas costas no sofá e a dor me faz desmaiar.

Estou no chão, minhas costas doem muito, meus olhos estão ardendo, e tem alguém em cima de mim. É uma mulher, branca, de feições duras e olhos negros como o breu... é a puta da noite passada. Eu não consigo me mover, nunca pensei que uma mulher tivesse tanta força. Que porra ela está fazendo em cima de mim. Não consigo falar, nem gritar.

A puta se contorce muito. E quando novamente olhar pra ela, não é ela que eu vejo. Não são mais mãos que eu vejo. Ela tem garras, e das suas costas saem duas assas enormes, são assas de morcego, sua língua é bifurcada e ela é quente, muito quente. Sinto sua pele quente e escamosa contra minhas costas. Ela parece preocupada, na verdade nem sei dizer se aquilo é “ela”.

Suas unhas saem de suas garras, unhas e enormes e pretas. Aquilo aparentemente está fazendo algum tipo de desenho ou medição nas minhas costas.

E então ela corta as minhas costas com suas unhas. A pior dor que já senti. Um enorme corte transversal. Escuto um grito, como um porco sendo abatido e sinto duas garras menores nas minhas costas. A dor me faz desmaiar novamente, mas dessa vez não acordo mais.